Mary e Jacques sairiam em um encontro.
Ok, não devia importar para Lys, não devia mesmo. Ela verificou três vezes, e
não, em hipótese alguma estava sentindo algo além amizade pelo rapaz. Mas o
medo de perder sua amiga para um namorado, de acabar tendo que servir de
intrusa nos encontros deles dois... Era grande demais.
Mas não era isso que mais a
incomodava, e sim o jeito como Jacques e Ian agiram um com o outro. Parecia
que, de alguma maneira, eles se conheciam, ou, se não se conheciam, não foram
com a cara um do outro, e isso não era bom. O que ela menos queria era que seu
novo amigo e o primo da sua melhor amiga entrassem em conflito.
E Ian não saia da sua cabeça.
Quando Jake pôs o braço por sobre seus
ombros, ela estranhou um pouco, mas ele gesticulou, a olhou de uma maneira que fez
com que ela não falasse nada. Então, quando já estavam dentro do carro, ele explicou
que, com caras como Ian, era assim que funcionava: eles só desistiam de uma
garota quando a viam com outro. Ele mesmo era um desses, admitiu.
Mas o estranho foi que Elizabeth
percebeu que eles não agiram como se tivessem se visto pela primeira vez. Podia
ser só impressão dela, mas algo dizia que eles já se conheciam antes.
Ela continuou pensando, até finalmente
cair no sono.
E então, mais uma vez ela passou por
tudo aquilo. Mais uma vez, ela teve um sonho. E a coisa que ela menos gostava
era sonhar.
Ela
estava sentada em um balanço de corda, no meio da mata. Era tão divertido e
sossegado lá... parecia desabitado, mágico...
Então,
a cena mudou. O céu fechou-se em pesadas nuvens escuras e uma imagem apareceu
por entre as árvores. E então, fogo. Muito fogo... fogo no corpo de uma garota
morta.
Lys
tentou gritar, apavorada, mas algo a impediu. No começo, ela não sabia o que a
fazia não gritar, não correr para longe... mas depois, tudo fez sentido, por
que ela descobriu... a imagem que ela via ao fundo, escorado em uma árvore
tranquilamente, era o primo de Mary, o azul dos olhos não mentia. Era o mesmo
azul que a deixava sem ações.
Ela
o viu aproximar-se, lentamente. Tentou fugir, porém ele apareceu na sua frente.
Correu então para o outro lado, mas ele novamente impediu seu caminho. E então
ela cansou de correr, e quando seus pés fraquejaram e ela caiu de joelhos no
chão, pedras foram cravejadas dolorosamente nos mesmos, ao mesmo tempo em que
os olhos azuis do rapaz tomaram conta do campo de visão dela.
Um
nome veio em sua cabeça: Ioseph. Mas esse não era o nome dele, ela tinha
certeza. Por que, então?
O
rapaz deu a mão para ela levantar-se. Um cavalheiro, ela pensou. Ela
levantou-se com esforço, os joelhos sangrando, sem lembrar direito do motivo
pelo qual fugira dele. Ele a puxou para seus braços e a beijou docemente. O
gosto dos lábios dele era tão conhecido... ela podia descrever esse gosto com
uma só palavra... um gosto ferruginoso, não tão agradável... sangue?
A
garota se afastou dele, assustada. Ele estava diferente, assustador,
tenebroso...
Um
sorriso perverso apareceu nos lindos lábios dele.
Lys acordou gritando. Assim que se
acalmou, começou a relembrar do sonho, um dos mais estranhos que já tivera.
Lembrou de cada detalhe fora o final. O fim havia simplesmente sido deletado de
sua mente.
O que era mesmo? Algo assustador,
inexistente... nada. Ela não conseguia lembrar de nada depois do sorriso.
Ah, ele ficava tão lindo com um
sorriso perverso, no melhor estilo bad boy... parecia que aquele sorriso era
uma característica dele, algo que nasceu com ele e exclusivamente para ele.
Ela repreendeu-se por pensar dessa
maneira.
Agradeceu às circunstâncias por sua
mãe não ter a ouvido. Ela devia estar no jardim naquele momento. Era o que ela
fazia nos fins de semana, antes de sua amada filha única acordar.
A garota levantou-se, suada. Tomou um
banho rápido e pôs-se a preparar o café da manhã para as duas. O cheiro de
bacon frito trouxe a mãe para dentro de casa.
- Bom dia, meu anjinho. – ela
cantarolou, dando um beijo na testa da filha. – dormiu bem?
- Sim... na verdade, não. – a mãe a
olhou complacente, incentivando-a a continuar falando. – Eu tive um pesadelo
estranho de novo... e dessa vez, era o primo de Mary. Eu estava fugindo dele.
Jessica Price ouviu sua filha
atentamente, enquanto a garota contava o seu sonho. Depois, a cozinha mergulhou
em um silêncio profundo.
- E agora? – ela finalmente o
interrompeu.
- Como assim, e agora, mãe?
- Sim, Lys, e agora? Você vai
acreditar nesse seu sonho?
- Mamãe, durante toda a minha vida eu
venho acreditando nos meus sonhos, desde que um deles me avisou que a tia Judy
ia entalar num brinquedo infantil e isso aconteceu três dias depois, no
aniversário do primo George.
- E vem dando certo esse negócio de
acreditar nos seus sonhos?
A garota reparou no olhar incrédulo da
mãe, mas ignorou-o.
- Eu estou viva, não estou? Então acho
que meus sonhos têm adiantado de algo. Pelo menos nada me provou o contrário.
Nesse momento a mãe havia acabado de
comer seu pedaço de bacon e de beber seu copo de suco de laranja. Ela
levantou-se e deu outro beijo doce na testa da filha.
- Então tudo bem, minha bebê, só
cuidado para não julgar as pessoas antes de conhecê-las.
- Eu sei, mamãe. Vou para a casa da
Mary, eu tinha prometido ajudar ela em algo que eu nem sei o que é... ah, se
nossa amizade não fosse tão valiosa...
As duas riram e se despediram. Depois,
Lys dirigiu até a casa da amiga.
Nenhum comentário:
Postar um comentário