segunda-feira, 26 de março de 2012

Capítulo 1 - Parte 5

          Ele sentou-se em um banco e ficou observando as garotas que passavam por lá, levando cachorros para passear, caminhando com os namorados, brincando com criancinhas... e sentadas em grupo, conversando animadamente. Eram essas as que ele mais gostava, os alvos mais fáceis. Normalmente, elas estavam atrás de caras que não quisessem compromisso, para se divertir pelo fim de semana apenas. E era aí que entrava Ian.
          Deparou-se com uma jovem garota, uns dezoito anos no máximo. Loira, olhos verdes, um pouco magra demais, mas dava para o gasto. Ian esperou até a garota dar uma risada ruidosa de algo que sua amiga baixinha dissera. Então, entrou na mente da garota e manipulou seus pensamentos, fazendo-a dar uma desculpa qualquer e separar-se do grupo. Então ele se aproximou.
          - O que uma garota tão bela faz sozinha no parque?
          - Ah, obrigada. Eu só estava...
          Ela continuou falando, mas o vampiro não prestou nenhuma atenção. Estava sedento, e o cheiro de sangue e a visão das finas veias azuis por baixo da pele alva faziam com que o corpo do vampiro doesse de ânsia, as presas arranhassem na boca, ansiando por libertarem-se e cravarem no pescoço dela.
          Ele tinha que fazer algo, antes que não conseguisse se conter, antes que a matasse na frente de todos.
          Ian não sabia ao certo se a iniciativa havia partido dele ou se ele havia manipulado os pensamentos da loira, mas no instante seguinte eles estavam beijando-se, indo em direção à um beco escuro.
Ele a beijava calorosamente, ansiando para provar de seu sangue. Ela, naturalmente, não sabia dos interesses do vampiro, e por isso agia por instinto, vivendo o momento.
          O vampiro enrolou os dedos no cabelo da garota e puxou sua cabeça para o lado e para trás. Ele não agüentava mais, estava sedento demais.
          A garota tentou gritar, mas ele tapou sua boca. Podia manipular os pensamentos da garota para fazê-la parar de gritar, mas não queria. Ele gostava de sentir o medo dela, de precisar dominá-la, de sentir que ela o temia. Era empolgante.
          A visão da jugular da garota, pulsante em sangue, o fez delirar. E então ele não agüentou mais.
          A garota sentiu os lábios dele em seu pescoço, então duas afiadas prezas causando uma dor dilacerante, duas pontadas na fina pele, perfurando-a e depois drenando o sangue.
          Ela tentou gritar, se debater, mas de nada adiantou, a não ser para deixá-la ainda mais cansada. Ela já estava exausta quando a escuridão a dominou por completo.
Ian sentiu suas presas perfurarem a pele dela, e então aconteceu. Aquela sensação que sempre acontece, que durante todos esses anos ele jamais foi capaz de se acostumar. A euforia, a sensação quente e enérgica de sentir o sangue escorrendo por sua garganta, o arrepio gelado e prazeroso percorrendo sua espinha e espalhando-se por todo seu corpo, a sensação de poder... tudo aquilo era indescritível.
          E ele amava ser vampiro.
          Mas a melhor parte... ah, a melhor parte estava, de longe, no medo da vítima, todas as emoções da vitima passando prazerosamente para o seu ser, o deixando sentir-se inatingível... aquela era a melhor parte, sem dúvida.
          Finalmente, a garota parou de debater-se, seu sangue sendo tirado completamente de seu corpo inerte. Ele a pegou no colo e saiu.
          Estava escuro, ninguém ia notar se ele por acaso saísse carregando a garota. Ninguém repararia no seu pescoço, nem na falta de movimento dos pulmões... naquela escuridão, ele pareceria apenas um namorado levando sua garota adormecida no colo.
          A pôs no carro e dirigiu até a floresta, não longe ao ponto de ele não poder ir a pé, mas era mais seguro ir de carro.
          Adentrou a densa mata com a garota nos braços e parou logo após, jogando o corpo sem vida no chão, nada gentilmente. Então tirou do bolso do casaco um vidrinho de Inívia, uma substância altamente inflamável que consumia rapidamente, desconhecida pelos humanos, mas muito usada por vampiros.
          Cobriu o corpo com aquela densa substância amarelada. Então, acendeu um fósforo e, como quem joga um papel de chicle no chão, jogou- por cima do corpo. Depois, sentou-se ao pé de uma árvore e ficou esperando o  corpo queimar, enquanto fumava um cigarro.
          Logo, o fogo consumiu-se por completo, até que não restasse mais nenhum indício de que a loira de olhos verdes estivesse ali antes.
          Ele apagou o cigarro, ainda pela metade, e jogou-o no chão. Ele odiava fumar. Fumava para poder rir dos humanos, ver o quanto aquilo era nocivo para eles, mas o quanto era inofensivo para um vampiro, mais uma prova de que humanos eram desnecessários para outra razão que não para sua alimentação.
          Mesmo assim, fumava apenas quando não tinha nada melhor para fazer. Era um habito ridículo, caro e inútil, só servia para prejudicar os humanos e entediar a ele próprio.
          Pensando nisso, assim que a última brasa rapidamente apagou, ele voltou ao se carro e dirigiu de volta para a casa da prima.

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